domingo, 21 de novembro de 2010

Carne


Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas
Que importa se existe entre nós muitas montanhas?
O mesmo céu nos cobre
E a mesma terra liga nossos pés.
No céu e na terra é tua carne que palpita
Em tudo eu sinto o teu olhar se desdobrando
Na carícia violenta do teu beijo
Que importa a distância e que importa a montanha
Se tu és a extensão da carne
Sempre presente?

(Vinicius de Moraes)



P.S.: Nestes dias tenho descoberto e sentido a dor da distância e da saudade...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Penso em você principalmente como a minha possibilidade de paz — a única que pintou até agora, “nesta minha vida de retinas fatigadas”. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito.
Tô morando, trabalhando, estudando e amando. Esses são os quatro foles da minha vida, no momento, e sobre cada um deles eu teria milhares de páginas a preencher. Sei lá, menina, tá tudo tão legal — e um legal tão batalhado, um legal merecido, de costas e pernas doendo, mas coração tranqüilo."

(Caio Fernando Abreu)



P.S.: tempos sem escrever nem aparecer por aqui... hj o que me define é isso.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Eu já nem quero te fazer entender, não. Cansei. Minha boca abre e fecha, e tudo o que teima em escapulir, eu acabo engolindo outra vez. Pode ter sido essa noite em claro, em meio ao frio, ao cinza, aos raios amarelos que eu esperei e não apareceram. Pode ter sido. Ou talvez apenas mais uma invenção minha. É, você sabe que eu crio situações por nós dois, resolvo, problematizo, e no final já nem existia nada. Vai ver eu acabe criando propositadamente, pra poder me envolver com qualquer coisa que não seja a verdade silenciosa que fica sussurrando em qualquer presença ou ausência nossa. E tudo isso me entorpece tão profundamente, sabe? Findo expulsando incoerências destrambelhadas porque eu queria mais era te ver - te ouvir, ler, que seja - berrando qualquer coisa. Uma manifestação. Um copo quebrado, um cheiro de vinho pela sala, ou qualquer reação vermelha que me fizesse levar à boca o dedo cortado. Acontece que eu espero, e as ranhuras se dão por dentro, de um jeito todo enigmático, sem pretensão tua, mas por convenção minha. Eu te chamo e não vem palavra. Te chamo, e não vem você. Acabo voltando, também. Recuo um passo ou dois, e fico observando com um olhar pervagante tudo o que se movimenta. Tento ser pedra, em vão. No fim eu sempre volto, sem a menor resistência, cantarolando uma bobagem qualquer, impregnada de você em todas as lembranças do futuro que não é. Somos errados, menino. De um jeito estúpido, eu penso em como seria se não houvéssemos acontecido. Eu queria expor todo o meu sentimento agora numa dessas minhas frases curtas. Queria fazer do sentimento algo claro, permitido, solto. Mas daí eu amarro tudo, e vou enovelando gestos secretos que muito provavelmente te fariam tropeçar, caso desenrolasse. E eu sei, ah, como eu sei!, que você se preserva de maneira igual. Existe sempre algo que fica. Mesmo que a gente decida ir embora, algo fica. Lembro meus momentos de surto, com tuas batidas de porta. Sempre me julguei tão calma e serena, que me surpreendo ao ficar de veneta nessas horas. Os pedidos para que você não ouse saber de mim, os adeus recheados de drama. E a amiga que me lembra que sou de peixes - e pra você isso não quer dizer nada. Mas me desenho besta. Teimosa. E agora, impulsiva. Impulsiva de um jeito que eu queria pegar o telefone e cantar com minha voz cor-de-rosa qualquer tom desafinado de All My Loving ao teu ouvido, porque ultimamente são os Beatles que passaram a virar desenho de qualquer momento nosso, no meu mundo. Mas eu não consigo, menino. Eu viro adolescente boba, que fica olhando de meia em meia hora pro celular, que checa o e-mail com uma vontade nada habitual, e que depois lembra de ter te pedido para ir. Lembra que talvez fosse isso que você sempre quisesse ouvir. E lembra, mais ainda, que se eu me propor, posso acabar me afeiçoando à ideia do não voltar. É que... Você não acha de uma tolice tão grande essas pequenezas que em nossas mãos se tornam graúdas? Aí eu fico te contando que somos crescidos. E você discorda. E eu fico em cólera. E você vai. E daí a queda d'água interna começa a despontar, em mim. Só em mim. Começa urgente, e depois fica mansa, miudinha, igual minha vontade de acordar. É que sempre sonho, menino. Sonho você sonhando comigo, eu dentro do teu sonho, você no meu, e depois... Depois eu só peço que nenhum de nós dois queira despertar. Tô falando muito, eu sei. Por nada, é verdade. Por um desenrolar exclusivamente meu diante da tua opção de mudez, que me dilacera imenso, ainda que o guardado seja insignificante. Ei, não bate a porta, não. Porque tenho medo de trancá-la, e virar muro entre nós. Eu sei que sou tonta, dramática, chata, e ultimamente várias, dentro de uma só. Mas você não é nada fácil, também. Nos abraçamos assim, não foi? Isso é um ponto em comum. A verdade é que eu queria deitar no teu colo, com descuido e alguma pressa, e te contar tudo isso, em meio a um disparar de palavras ininteligíveis, que findasse com você me dizendo que não precisa dizer nada. É que eu não te esperava, não. E sei que você não me esperava também. Um desesperar, era? Eu queria não esperar nada. Seria mais fácil toda relação, se o não-esperar existisse, e fosse possível. Esperar, desesperar. E eu tive noção de que em meio a todo e qualquer desencontro, acabamos sendo conduzidos, você e eu, para o agora. Você é uma possibilidade minha, menino. Possibilidade não verbalizada. Como um sentimento sem nome, feito de uma palavra estranha. Palavra que nunca vai caber em dicionário nenhum, e que ninguém nunca vai inventar. Repetição? Sim. É que eu tento apagar, eu minto pra satisfazer tuas vontades, te pedindo pra não vir. Mas você fica. E sempre vai ficar. Continua existindo, musicado. O inevitável dança aos meus olhos. Aí chega a hora em que distribuo um segredo: o tudo que faltava, talvez seja você. Digo e vou dormir, sem sonho, mas dentro dele."

(Jaya Magalhães in Líricas.)


P.S: talvez tu nunca leia este texto, assim como eu nunca o escrevi, porém a necessidade de expressar isso hoje, fez com que publicasse ele aqui. A bagunça está maior, o 'desesperado' fez com que o futuro virasse ausente, quem sabe passado. Mas eu não quero isso. Não sei o que fazer, o que pensar, o que dizer. Sigo aqui. Vou esperar um pouco mais. Mas uma coisa é certa: não quero muro entre nós.

quarta-feira, 9 de junho de 2010



- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também, mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu.


(Caio Fernando Abreu)



P.S.: Pelo reencontro!

sexta-feira, 28 de maio de 2010


Estou te querendo muito bem, neste minuto.

Tinha vontade que você estivesse aqui

e eu pudesse te mostrar muitas coisas,

grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.

Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz.

Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé.

Mesmo que a gente se perca, não importa.

Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro.

Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.



(Caio Fernando Abreu)

domingo, 2 de maio de 2010


Por acaso achei você
Sem procurar ou perder
Uma fortuna de glórias
Em comum longas histórias
Aperta os laços na memória
Não quero impressionar
E mesmo querendo só ganhar
A derrota tem seu espaço
Tristeza é se acostumar
Mas a beleza não mente
Acreditamos em nós descrentes.







P.S. O garoto que faz, em uma fração de segundo, meu coração dar pulos e minha mente pensar mil coisas...


quarta-feira, 28 de abril de 2010




"Não estou afim de falar de enchentes, AIDS, Governo.

Quero cantar canções de amor.

Já desisti de fazer músicas para salvar o mundo.

Eduardo e Mônica estão divorciados"


(Renato Russo, 1988)



P.S.: Sabe aquela coisa: li e me apaixonei? foi exatamente isso...

agora o porquê não sei dizer, mas tem coisas que são assim mesmo:

INEXPLICÁVEIS

segunda-feira, 26 de abril de 2010


"O nosotros somos capaces de destruir

con argumentos las ideas contrarias,

o debemos dejar que se expresen.

No es posible destruir ideas por la fuerza,

porque esto bloquea cualquier desarrollo

libre de la inteligencia"



(Ernesto Rafael Guevara de La Sierna)




P.S.: sem coments..rsrs

domingo, 25 de abril de 2010

Perfeita Simetria - Engenheiros do Hawaii

Esta música tem um trecho que volta e meia falo por aí:

"Perdoa o que puder ser perdoado

Esquece o que não tiver perdão"

Hoje.. tudo a ver: Vamos voltar!!!!

Amo muito td isso....

quarta-feira, 21 de abril de 2010


pra que ser normal e fazer essas coisas normais

que os normais sempre fazem?

prefiro ser louco e te amar mais um pouco



(Gabriel O Pensador in Diário Noturno)

sexta-feira, 16 de abril de 2010


Amor, então
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

(Paulo Leminski)



P.S. Achei isto rabiscado num livro que utilizava alguns anos atrás..
fazia horas que não abria o livro... (Paulo Freire - Pedagogia do Oprimido)
nunca imaginei usar ele na Enfermagem.. rsrsrs

Aproveito e dedico ao Ernesto, grande apreciador do Leminski
BjoO

quarta-feira, 14 de abril de 2010


"Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças..."



(Oswaldo Antonio Begiato in Oração a mim mesmo)

domingo, 11 de abril de 2010


A HISTÓRIA DO LÁPIS


O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou:

- Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E, por acaso, é uma história sobre mim?

A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:

- Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.

O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.

- Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!

- Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, farão de você sempre uma pessoa em paz com o mundo.

"Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.

Segunda qualidade: de vez em quando é preciso parar o que estamos escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas, no final, ele estará mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas lhe farão ser uma pessoa melhor.

Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça.

Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas a grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.

Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação."



(Paulo Coelho in Ser como o Rio que Flui)

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Sei que não posso mudar o mundo sozinho

Mas com a ajuda dos outros, quem sabe eu mudo um pouquinho?

Sei que eu não mudo o poder que manda no mundo

Mas com a ajuda da sorte, quem sabe eu não me confundo?

Sei que eu não mando na voz que cala de medo

Mas com a ajuda do mundo, quem sabe eu conto o segredo?

Sei que eu não conto com todo mundo no canto

Mas com a ajuda do coro, quem sabe eu calo esse pranto?



(Gabriel O Pensador in Diário Noturno)

segunda-feira, 5 de abril de 2010




"É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela, sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram..."



(Vinicius de Moraes in O amor por entre o verde)




Pelos desencontros passados e os encontros que hão de vir...

O dia de hoje me fez pensar nisso..

sexta-feira, 2 de abril de 2010




"Sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra, seja no meio de um deserto, seja no meio das grandes cidades. E quando estas pessoas se cruzam, e seus olhos se encontram, todo passado e todo futuro perde qualquer importância, e só existe aquele momento, e aquela certeza incrível de que todas as coisas debaixo do sol foram escritas pela mesma Mão. A Mão que desperta o Amor, e que fez uma alma gêmea para cada pessoa que trabalha, descansa e busca tesouros debaixo do sol. Porque sem isto não haveria qualquer sentido para os sonhos da raça humana..."


(Paulo Coelho in O Alquimista)

Gente, Paulo Coelho é um grande autor, embora bastante criticado, escreve muito aos corações humanos, principalmente ao meu... eleja, atreva-se, lute, busque e encontre...

terça-feira, 30 de março de 2010



(...)


O amor é essa força incontida,


Desarruma a cama e a vida


Nos fere, maltrata e seduz...


(...)



(Vinícius de Moraes e Toquinho in Deixa Acontecer)

segunda-feira, 29 de março de 2010


"Não te acorrentes ao que não vai voltar"


diz ela, provocando ao mesmo tempo nosso desejo e nosso medo.

Medo que costuma nos paralisar diante da decisão crucial: viver ou deixar pra mais tarde.

O poeta espalmaria sua mão direita nas nossas costas (a outra estaria segurando o copo)

e diria: VAI.




(Martha Medeiros in Doidas e Santas - sobre o Poetinha)

domingo, 28 de março de 2010


No dia de hoje não poderia deixar de ser registrado aqui uma lembrança.
A única certeza é que não é só no dia 27 de março que és lembrado, escutado, adorado, cultivado em nossas memórias e corações que nunca mais serão os mesmos depois de ti...
Renato Russo.. eternamente.
"Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Mas um dia eu consigo existir
e vou voar pelo caminho mais bonito.."
(Renato Russo in Clarisse)

sexta-feira, 26 de março de 2010

A quem interessar possa


Há tempos estou para lhe falar algumas coisas. Tudo tem ficado muito confuso, cada vez mais sinto que você me alcança menos e acho que esclarecer algumas coisas pode ajudar. Você diz que me ama, mas talvez esteja enganado. O amor compreende, e o amor só ama de verdade aquilo que o completa. Talvez você ame o que você é quando estou por perto. Talvez você ame apenas a ideia que tem de mim, e isso não sou eu. Isso é você querendo que eu caiba nos seus anseios, nos seus desejos. Vê? isso é você amando a si mesmo. Essa é a soma das suas perspectivas, que muitas vezes não condiz com o real. Nesse caso, não tendo eu outra alternativa além de ser o que eu sou, a você restam duas opções: me ame, ou me deixe. Me queira com tudo que eu tenho de bom e de ruim, com todas as idiossincrasias e as pequeninas coisas que às vezes você nem considera correto. Entenda que eu não escolhi e nem tenho culpa de ser cavalo selvagem: o fato de você conseguir cavalgar comigo depende unicamente da sua destreza. Entenda que eu sou como um gato, variável, inconstante, mas sempre honesto: uma vez que sabe lidar com ele é garantia de carinho e apego eterno. Caso contrário, arranhões e comportamento arredio são inevitáveis. Caso contrário, se prepare para me ver fugir ou te ignorar. Quem quer conviver com bichos selvagens, deve estar preparados para as intempéries. No mínimo existe a garantia de surpresa e nenhuma previsibilidade, nunca se sabe o que pode acontecer. Pra uns isso pode parecer desesperador, para outros é apenas imensamente emocionante. é sempre seu direito botar na balança e decidir se quer viver assim na corda bamba, numa aventura sem roteiro pré-estabelecido. Não tome por pretensiosa por falar desse jeito sobre mim mesma. É apenas uma tentativa de que eu e você descubramos se existe realmente algum laço real, ou se ele é feito de filó. Decifra-me ou te devoro. Sem dó nem piedade.



(Pitty in Pitty O Boteco)



Tuas palavras me traduzem...

Achei isso aqui: www.pitty.com.br/blog.php

quinta-feira, 25 de março de 2010



COISAS



Às vezes eu fecho os meus olhos e ouvidos
e as coisas parecem perder o sentido
escuto as pessoas falando ao redor
(e os meus pensamentos que eu já sei de cor)
qualquer novidade, a mais quente da praça
e o tradicional, igualmente sem graça
os velhos costumes, as novas manias
as vozes, às vezes, parecem vazias
o saco tá cheio, tá fraco, cansado
escuto as pessoas falando ao meu lado
a televisão, as notícias de sempre
que querem que eu saiba, que querem que eu lembre
mentiras, verdades, são tão parecidas
azares e sorte, a morte e as vidas
às vezes as coisas parecem perder
o sentido e a razão, e a razão de ser
tudo perde o sentido e a graça e o gosto
às vezes as coisas parecem sem rosto
são coisas da vida, da vida de coisas
de coisas pequenas que a gente atropela
as coisas da rua, do ar e das casas
as cores das coisas na nossa janela
às vezes eu abro meus olhos e ouvidos
e as coisas parecem fazer mais sentido
e a cor aparece e o céu me colore
querendo que eu ria, querendo que eu chore
eu moro nas coisas, na casa das coisas
das coisas pequenas que a gente ignora
das coisas da lua, do mar e das asas
das coisas de sempre, do hoje, de agora.



(Gabriel O Pensador in Diário Noturno)



Gente, muito mais que um mero cantor, Gabriel é um Pensador, um ser que escreve com a alma e o coração... Curtam suas obras.. Diário Noturno e Um garoto chamado Rorbeto.

Não vão se arrepender...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Mulheres do Topo da Árvore


As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos. Mulheres são como maçãs em árvores.

As melhores estão no topo.

Os homens não querem alcanças essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegas as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir.

Assim, as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando, na verdade, ELES estão errados...

Elas têm que esperar um pouco mais para o homem certo chegar. Aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore.



(Machado de Assis)
Dedicado à Daii :D
pelas longas e agradáveis conversas..

segunda-feira, 22 de março de 2010

O que quer uma mulher


Um bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina! A mãe da criança, então, se põe a sonhar com o dia que sua princesinha terá um namorado de olhos verdes e se casará com ele, vivendo feliz para sempre. A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações. Laçarotes, babados, contos de fadas: toda mulher carrega a síndrome de Walt Disney.
Até as mais modernas e cosmopolitas têm um sonho secreto de encontrar um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas, nos conformamos com analistas de sistemas, gerentes de marketing, engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, nos ajudam com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer em nos levar pra jantar. São príncipes à sua maneira, e nós, cinderelas improvisadas, dizemos sim! Sim! Sim! Diante do altar. Mas lá no fundo a carência existencial herdada no berço jamais será preenchida.
Queremos ser resgatadas da torre do castelo. Queremos que o nosso pretendente enfrente dragões, bruxas, lobos selvagens. Queremos que ele sofra, que vare a noite atrás de nós, que faça tudo o que o José Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas. Queremos ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de nos impedir de embarcar.
O amor da vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo" virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre casais, é mais fácil ouvir "te amo" ao encerrar uma ligação telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se xingado por meia-hora. "Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou preparar o jantar pra você às dez da noite, te vira. Tchau, também te amo!" E batem o telefone, possessos.
Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas. Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a maioria tentaria nos resgatar de um prédio em chamas, caso a escada magirus alcançasse nosso andar. Não é nada, não é nada, mas já é alguma coisa.
Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam quartos em hotéizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados, corajosos, batalhadores. Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela, suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é. Perdoem esse nosso desvio cultural rapazes, nenhuma mulher se sente amada o suficiente.


(Martha Medeiros in Trem Bala)

domingo, 21 de março de 2010



Será que amar é mesmo tudo ??


(Fernanda Mello e Rogério Flausino in O que eu também não entendo)

Só isso


Uma mulher só não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento para o outro.

Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem.

Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de gosto, de opinião. Não se adquire com a família, surge de uma decisão solitária. Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente.

Amar para valer, para provocar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar, para fugir, para não nadar até o começo do corpo. Não usar atenuantes como "estou confuso". Não se diminuir com a insegurança, mas se aumentar com a insegurança. Não se retrair. Não se retrair perante os pais. Amar como se não houvesse tempo de amar. Amar esquisito, de lado, ainda amar. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. Amar como quem volta de um grande exílio. Amar como uma canoa engatinha ma margem, árvore deitada de bruços. Amor desavisado, com vírgula, entre o sujeito e o verbo. Amor desatinado, pressionando a amar mais, a amar mais do que é possível lembrar.

Amor com coragem, só isso.



(Carpinejar in Canalha)

sábado, 20 de março de 2010


Não me prendo a nada que me defina.

Sou companhia, mas posso ser solidão.

Tranquilidade e inconstância, pedra e coração.

Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono.

Música alta e silêncio.

Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser.


(Clarice Lispector)

Sou um caractere chinês


Olho o céu com paciência.
O azul não me cansa.
Uma ave voando não significa que está partindo.
Uma ave voando pode estar regressando...


(Carpinejar in Canalha)

O Amor


Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

(...)

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui
nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão ser estes:
fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar à casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca um canto de louvor.


(Khalil Gibran Khalil)

quarta-feira, 17 de março de 2010

"O tempo passa.

Mesmo quando isso parece impossível.

Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma.

Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa."



Stephenie Meyer in Lua Nova

domingo, 14 de março de 2010

Eu escrevi um poema triste..

Eu escrevi um poema triste

E belo, apenas da sua tristeza.

Não vem de ti essa tristeza

Mas das mudanças do Tempo,

Que ora nos traz esperanças

Ora nos dá incerteza...

Nem importa, ao velho Tempo,

Que sejas fiel ou infiel...

Eu fico, junto à correnteza,

Olhando as horas tão breves...

E das cartas que me escreves

Faço barcos de papel!



(Mário Quintana in Quintana de Bolso)

Acho que não sou daqui



acho que não sou daqui

paro em sinal vermelho

observo os prazos de validade

bato na porta antes de entrar

sei ler, escrever

digo obrigado, com licença

telefono se digo que vou ligar

renovo o passaporte

não engano no troco

até aí tudo bem



mas não sou daqui

também

porque não gosto de samba

de carnaval, de chimarrão

prefiro tênis ao futebol

não sou querida, me atrevo

a cometer duas vezes o mesmo erro

não sou de turma

a cerveja me enjoa

prefiro o inverno

e não me entrego

sem recibo


(Martha Medeiros in Poesia Reunida)